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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Calem a boca, nordestinos!

A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.

Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra... outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...

Ah! Nordestinos...

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

José Barbosa Junior, na madrugada de 03 de novembro de 2010.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Efêmero

O que significa viver um sentimento efêmero? A priori, nossos dicionários geralmente definem esta palavra como passageiro; algo que não possui longa duração. Não encontro dificuldade para concordar com esta afirmação, mas gostaria saber o que faço com aqueles momentos que foram passageiros na perspectiva do tempo, mas que eu nunca conseguirei apagar de minhas lembranças.

Daí nasce uma dúvida antagônica, ou seja, como posso dizer que foi passageiro aquilo que carrego tão vivo dentro de minha alma? É fato que o presente não se pode deter de forma alguma, e que fazendo uso da lógica, seria impossível que o presente se perpetuasse. Mas o problema é que me parece impossível viver uma vida tão lógica, e mesmo que fosse possível, creio que não me sentiria nem um pouco atraído por ela.

Quem pode viver uma vida tão previsível assim? Ninguém, ou pelo menos, ninguém que quisesse viver a vida em sua plenitude. Não é possível ser feliz vivendo do lógico, não pretendo jamais deixar de viver o efêmero da vida, já que esses momentos são únicos e não voltarão jamais. Aquele que se priva de viver o agora, certamente se arrependerá amanhã, chorará por não ter arriscado viver um grande amor, ou pelo menos, lamentará não ter tentado.

Se vivermos o presente com medo do que nos decorrerá deste momento, não conseguiremos sequer absorver o prazer que o presente nos oferece. Creio que em muitos casos nossas lembranças são mais prazerosas do que o momento realmente foi, talvez porque quando devíamos ter aproveitado a sensação nos perdemos em sentimentos que nos atrapalharam. Um beijo romântico na pessoa amada é perfeito nas lembranças sem que o tenha sido de fato, já que no momento o coração batia forte e a mão suava, impedindo assim que a sensação maravilhosa do beijo fosse de fato sentida.

Muitas vezes as sensações são, de fato, passageiras e é preciso que as aproveitemos, para que assim a memória esteja livre no futuro para fazer apenas sua função, recordar. Sim… algumas vezes ela exerce funções que não lhe são devidas, por exemplo, as vezes ela é incumbida de criar um momento que não existiu na realidade, criando assim, não uma lembrança, mas uma fantasia. Recuso-me viver apenas de fantasias, quero degustar cada instante como se fosse o último, cada oportunidade como sendo única.

Talvez por isso eu me sinta a cada dia mais débil, tenho prestado enorme atenção quando estou diante de algo que julgo ser bom. Tomando chá com uma mulher que me faz sentir o homem mais feliz do mundo, procuro notar como ela sorve o liquido e como seus lábios ficam lindos quando estão molhados, tento reparar como ela sente prazer quando estou acariciando seu cabelo, sinto seu cheiro quando a beijo e percebo como o tempo pára diante dela.

É bem provável que este exercício seja em vão, mas certamente tem me feito aproveitar melhor as sensações que tenho vivido. Alguém deve ter pensado nisso quando criou a foto, pois é exatamente isso que ela nos faz, torna eterno àqueles momentos mais felizes, e ao rever esta imagem podemos desfrutar, ainda que por instantes o que já se foi. Assim, o efêmero não deve ser visto como algo que passou, mas como algo que de certa forma temos vivido no presente e que tentaremos tornar eterno, ainda que a lógica do relógio nos tente impedir.

Leandro Possadagua

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Não lave suas Mãos

Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.” 

Mateus 27:24 

Constantemente utilizamos a frase: “Eu lavo minhas mãos”, essa expressão tem sua origem no relato bíblico do julgamento de Jesus, refere-se ao governador Pôncio Pilatos ter lavado suas mãos perante o povo judeu e com este ato ter dado, mesmo que indiretamente, permissividade para o assassinato de Jesus Cristo, com esta atitude o governador da província estava querendo dizer que ele não possuía responsabilidade alguma sobre a morte daquele homem.

Pôncio Pilatos era o governador romano da província da Judéia, se havia alguém que poderia impedir a crucificação de Jesus esse alguém com certeza era Pilatos, historicamente os romanos dominaram o povo hebreu, o que explica o fato de um romano estar julgando uma causa puramente judia. Os judeus querendo ou não prestavam satisfações ao governo romano sobre suas causas. Pilatos tinha todo poder em suas mãos para impedir a condenação daquele que, ele mesmo via ser justo, porém Pôncio preferiu se eximir das responsabilidades que seu cargo lhe incumbia, preferiu lavar suas mãos, com medo de uma revolta por conta do alvoroço causado pelos judeus, Pilatos preferiu o caminho mais fácil, retirou dos seus ombros a responsabilidade, preferiu a omissão, covarde deixou um inocente ser condenado a cumprir com seu dever de governante.

Teologicamente muitos crêem que o fato de Pilatos lavar suas mãos, ao final, acabou por ser um fato irrelevante, pois a morte de Jesus era algo que já estava predestinado, e não seria o governador Pôncio Pilatos que faria com que isto não ocorresse. Eu particularmente tenho minhas críticas a este posicionamento, acredito que Jesus tinha o propósito de morrer pela humanidade, creio que isto aconteceria de qualquer maneira, porém não creio que tudo já estaria pré-ordenado para que ocorresse daquela forma, creio no propósito, porém não creio que Deus tenha pré-estipulado tudo nos mínimos detalhes, pois desta maneira seríamos apenas meros marionetes nas mãos do Criador, acredito que mesmo se Pilatos não condenasse Jesus, Ele acabaria morrendo, talvez através da revolta, e ele não seria uma referência de omissão e de alguém que não cumpriu com aquilo que deveria.

O fato é que Pilatos acabou por ser estigmatizado como o homem que teve a oportunidade de fazer algo correto e preferiu se omitir, eximindo-se de suas responsabilidades. Nós muitas vezes também agimos dessa maneira, certa vez ouvi uma conhecida que, diga-se de passagem, era uma mulher muito rica, dizendo que havia visto um mendigo comendo restos de alimentos que estavam no lixo e que aquela cena havia a comovido muito, disse também que a partir do momento em que ela tivesse condições gostaria de ajudar pessoas necessitadas. A grande verdade é que ela já tinha condições de ajudar, grande parte daqueles que lerão este texto tem condições de ajudar, mesmo em pequena escala. Não estou me referindo erradicar a fome no mundo, questões “macros” que não estão ao nosso alcance, e sim ao nosso dia-a-dia, estou falando sobre ajudar alguém a empurrar o carro, sobre dar um alimento a algum necessitado, sobre abrir o guarda-roupa e ver o quanto de nossas roupas estão simplesmente paradas por anos, e levá-las a um posto de arrecadação, para que outras pessoas possam usufruir daquilo que não nos faz falta alguma. Estou falando sobre aquilo que está ao nosso alcance, mas nós simplesmente preferimos “lavar as nossas mãos”, preferimos jogar o encargo nas costas de qualquer outro, nos omitimos perante aquilo que está dentro de nossa alçada, somos como Pilatos, preferimos fugir, incumbir outros daquilo que nós poderíamos fazer.

Infelizmente nossa sociedade capitalista nos impede de pensar no “outro”, ela nos transforma em pessoas extremamente individualistas, não conseguimos mais nos compadecer dos problemas alheios, somos movidos apenas por motivações particulares e, na maioria das vezes, mesquinhas. Lavamos nossas mãos perante várias situações que se colocam a nossa frente todos os dias.

Precisamos refletir sobre as concepções que o mundo capitalista nos impõe, principalmente no que se refere a nossas leituras sobre a vida, sobre a fraternidade e sobre o amor ao próximo, precisamos nos desprender da idéia de que a obrigação por um mundo melhor não é nossa, e começar a compreender que se todos fizerem a sua parte, através de pequenas atitudes com certeza conseguiremos fazer de nosso planeta um lugar melhor.


Julio Cezar Nakasato.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Privilégio de Questionar

Atualmente estou cursando o 6º semestre do curso de História na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), por se tratar de uma licenciatura temas pedagógicos sempre estão em pauta em nossas aulas, algo que me chama atenção é o estímulo de nossos professores no que se refere a levar o aluno a um pensamento crítico, frases como: “devemos formar cidadãos com pensamento crítico”, são clássicas quando os assuntos são temas pedagógicos. Gostaria de explanar o que em minha opinião é um pensamento crítico, e por que muitos cristãos vêem este tipo de pensamento como algo prejudicial a fé.

Primeiramente quando se fala em mente crítica não estamos falando de meras reclamações, não estou falando de criticar a roupa que determinada pessoa está usando ou críticas banais que estão presentes em nosso cotidiano, na verdade quando se fala em pensamento crítico, academicamente, estamos falando sobre questionar, duvidar, sobre como chegar a conclusões próprias. Incitar o pensamento crítico é extremamente necessário para que os jovens se tornem cidadãos ativos em sua sociedade, fazendo boas escolhas, conseguindo utilizar da lógica para traçar seus objetivos e assumir bons caminhos para suas vidas. Este tipo de pensamento deveria também ser alvo de busca de todo ser humano. Infelizmente o questionar dentro do meio cristão tem uma conotação totalmente negativa, principalmente quando o alvo de nossos questionamentos são nossos líderes ou as doutrinas ortodoxas intocáveis.

O pensamento crítico dentro do cristianismo é visto com maus olhos, pois para muitos questionar e duvidar são palavras que beiram a blasfêmia, principalmente para a ala fundamentalista que crêem serem os “donos da verdade” ou os detentores da “sã doutrina”, para estes qualquer questionamento que possa colocar em xeque os fundamentos de sua fé é considerado demoníaco ou blasfemo.

Eu particularmente creio que a dúvida, o questionamento e a crítica são excenciais para a formação da cidadania, foi dessa forma que a humanidade conseguiu avanços surpreendentes em várias áreas do conhecimento, a problemática e as formas como se chegam às resoluções dessas questões são pilares da produção do pensamento cientifico, infelizmente nós cristãos ainda preferimos simplesmente aceitar tudo o que é pré-estabelecido, por mais bizarro que tais teorias pareçam, do que buscar novas visões, novos caminhos, novos conhecimentos e até mesmo novas dúvidas. Estamos acostumados a “comer” sem perguntar a procedência, comemos tudo o que nos colocam a mesa, e acabamos nos tornando encefálicos sem nenhum tipo de opinião própria, levados facilmente por qualquer tipo de pensamento.

Por isto muitas vezes nós cristãos acabamos sem nenhum tipo de opinião sobre política, sociedade, atualidade, ficamos parados no tempo. Não conseguimos ter nenhuma opinião a não serem aquelas que nos foram ensinadas. Criticar, questionar e duvidar não são pecados mortais, na verdade são as melhores maneiras de conseguirmos respostas plausíveis para nossas inquietações. Precisamos romper com determinados paradigmas que nos constrangem ou nos amedrontam quando o assunto é questionar. E ainda vou além, se você é cristão e não possui inquietações com relação a sua fé sinto em lhe dizer, mas é melhor rever seus conceitos de cristianismo, pois se há algo de interessante na fé cristã é o fato de não sabermos todas as respostas.

Questione, duvide e critique (quando necessário), compare, leia, busque, quebre paradigmas seja um cristão que vai além, não se limite ao convencional, seja autêntico, exponha seus pensamentos, crie, este exercício com certeza será válido. Dê a você mesmo o benefício da dúvida, da incerteza. Não estou pregando o relativismo total, o que desejo dizer é que o questionamento é sadio e que devemos utilizar nosso intelecto para que possamos ser além de cristãos autênticos, cidadãos ativos em nossa sociedade, pessoas que buscam e conseguem produzir novos conhecimentos que vão além da alienação encefálica de alguns movimentos religiosos.



Julio Cezar Nakasato.

A Simplicidade da Divindade

Um Poema de um indígena Cherokee:

“Um homem sussurou:
Deus, fale comigo!
E um rouxinol começou a trinar. Mas o homem não prestou atenção. Voltou a perguntar:

Deus, fale comigo!
E um trovão reboou pelo espaço. Mas o homem não deu importância. Perguntou novamente:
Deus , deixe-me vê-lo!
E uma enorme lua brilhou no céu profundo. Mas o homem nem reparou. E, nervoso, começou a gritar:
Deus, mostre-me um milagre!
E eis que uma criança nasceu. Mas o homem não se debruçou sobre ela para admirar o milagre da vida.
Desesperado, voltou a gritar: Deus, se você existe, me toque e me deixe sentir sua presença, aqui e agora.
E uma borboleta pousou, suavemente, em seu ombro. Mas ele, irritado, a afastou com a mão.
Desiludido e entre lágrimas, continuou seu caminho. Vagueando sem rumo. Sem nada mais perguntar. Só e cheio de medo"

(Cf. JB Ecológico, junho 2002, pg.46).



Precisamos aprender a encontrar o Divino nas coisas mais simples de nossas vidas.



Julio Cezar Nakasato

Não ao Extremismo

Tenho visto alguns debates ultimamente em que vários ateus tentam demonstrar que a religião tem atrasado o progresso da humanidade, um bom exemplo disto é a pesquisa feita pelo Sociólogo norte-americano Phil Zuckerman que tenta demonstrar que quanto menos religioso é o país maior sua renda per – capita, ou seja, o ateísmo e o “nível de vida” seriam diretamente proporcionais, com exceção dos Estados Unidos onde 65% de sua população afirma que possui algum tipo de credo religioso e tem uma das rendas mais altas do mundo.

Realmente não creio que o fato de um país acreditar em algum tipo de religiosidade seja a explicação para sua falta de desenvolvimento, acredito sim que pelo fato do país ter problemas sociais sua população esteja mais aberta a algum tipo de espiritualidade, pois a religiosidade serviria como um auxílio para que essas pessoas conseguissem enfrentar seus momentos difíceis, o que seria o inverso da afirmativa ateísta.

O que muitos ateus também se esquecem quando dizem que a religião atrasa o progresso da humanidade é a contribuição moral que a crença proporciona para o bem estar da sociedade, não estou dizendo aqui que todo ateu tem problemas morais, até porque grande parte dos ateus crêem que a moral é relativa, o que na realidade estou querendo afirmar é que muitas pessoas só possuem preceitos morais pelo fato de acreditarem que devem agir de determinada maneira, pois do contrário estariam desagradando a divindade a qual elas acreditam. A crença auxilia o bem estar social o não matarás, não furtarás, não cobiçarás a mulher do próximo, o incentivo a benevolência, a misericórdia e ao perdão são fatores que ajudam a sociedade caminhar de forma organizada e também auxiliam o estado para o controle da criminalidade.

A crença resgata pessoas que outrora estavam na criminalidade, no alcoolismo ou na dependência química, essas pessoas acabam encontrando um sentido para ter uma mudança de vida dentro da religião, caso esta não existisse, quantas pessoas não teriam conseguido se livrar desses males que destroem vidas e que trazem tantos transtornos sociais.

Não podemos nos esquecer da filantropia que é estimulada pelas religiões, quantas pessoas neste mundo foram ajudadas direta ou indiretamente por alguma entidade religiosa ou por algum religioso que acreditava estar seguindo sua crença fazendo o bem ao seu semelhante?

Obviamente não podemos esquecer de atentados terroristas como o 11 de setembro, ou fatos históricos como a Guerra Santa que justificava a matança e a guerra em nome de “deus”, são fatos, porém o estado ateísta sobre o governo de Stalin também não pode ser tido como ideal humanitário.

O que quero dizer é que a religião em si não é o mal, e ainda quero ir mais além, acredito que a religião traz muito mais benefícios a humanidade do que malefícios, não creio na teoria do atraso do progresso, e realmente não consigo imaginar o mundo sem alicerces religiosos, acredito que desta maneira nosso planeta estaria beirando o caos.

Não sou “ateofóbico”, mas creio que alguns fundamentalistas ateístas que tentam “desconverter” as pessoas acabam se tornando ainda piores que os fundamentalistas religiosos, criam guerras filosóficas sem sentido e acabam se tornando extremistas militando por sua causa.

Eu particularmente tenho a seguinte opinião, não é a religião ou a falta dela que afeta o progresso da humanidade até porque este não é o foco principal da crença, o que precisamos combater não é a religião em si, e sim os extremismos que causam a intolerância e a desordem social, isso sim deve ser combatido, e estes extremismos não são particularidades do meio religioso, existem por exemplo extremistas políticos, "marxistas xiitas", capitalistas selvagens, feministas exacerbadas, entre tantos outros extremismos que podemos citar, mas isto já é assunto para outro post.

Julio Cezar Nakasato

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Momentos

Você já parou para pensar no número de pessoas que você conheceu ao longo de sua vida? Com certeza não será um número pequeno, amigos de escola, vizinhos, colegas de trabalho, professores, amigos de igreja, pessoas e mais pessoas que passaram por nossas vidas deixando em nossas memórias boas ou más lembranças.

O tempo passa e muitas vezes nos separa de pessoas queridas, o fim do ensino fundamental, do ensino médio ou da faculdade, são momentos que nos marcam principalmente pelas despedidas, por saber que aquelas pessoas que até aquele instante eram nossos amigos inseparáveis estarão dando outro rumo em suas vidas, amigos que estavam todos os dias conosco se tornam uma mera lembrança em nossas memórias.

Os contatos se tornarão cada vez mais raros, Orkut, MSN, email, celular, parecem ser as únicas maneiras de nos lembrarmos da existência de algumas pessoas (aquelas que em outro momento eram essenciais), até o ponto em que nem mesmo esses meios de comunicação tão frios serão pontes com nossas antigas amizades, não haverá mais assunto, não haverá mais “química”, até o momento de sermos verdadeiros estranhos.

Porém nem só de percas vive o ser humano, ao mesmo tempo em que vida nos leva algumas pessoas ela também nos presenteia com outras. Pessoas que nos ajudam a construir nossa história que nos fazem conseguir compreender novamente o sentido da palavra amizade. Novos amigos, novas perspectivas, novos amores, a vida é nossa amiga, as mudanças são necessárias, pois sem elas seria impossível nosso crescimento verdadeiro.

O interessante da vida não é termos sempre ao nosso lado as pessoas que amamos, mas sim viver intensamente cada momento com aqueles que consideramos especiais e que ao mesmo tempo fazem que nos sintamos especiais.

A grande verdade é que mesmo não estando juntos as pessoas que são verdadeiramente especiais estarão sempre conosco, pois não é preciso estar perto para se estar presente, a lembrança de pessoas especiais pode vir através de uma música, de uma comida, de um lugar ou até mesmo através de outra pessoa.

Enfim aqueles que um dia foram especiais para nós nunca deixarão de ser, amigos verdadeiros onde quer que estejam sempre serão nossos amigos, independente da distância ou do tempo, pois a amizade verdadeira não está ligada a presença e sim a aquilo que a pessoa representa para nós.

Precisamos aprender a viver cada momento intensamente, pois aquilo que hoje parece ser eterno pode se tornar apenas uma sombra em nossa memória amanhã, por isso ame, chore, ria, faça com que seus momentos felizes sejam realmente inesquecíveis, pois nossa memória será nossa principal ferramenta na hora da saudade. 

Julio Cezar Nakasato

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quem de nós?

Prefeito da cidade de Dourados Mato Grosso do Sul foi preso por suspeita de fraude nos processos de licitações do município, junto com ele mais 28 pessoas foram detidas, entre elas vários vereadores, o vice prefeito e o presidente da câmara.

Quando lemos uma notícia como esta prontamente damos nosso veredito sem piedade, soltamos nossas injúrias,  até  mesmo aqueles que votaram para que ele se elegesse logo se levantam para difamar e descarregar a sentença de morte.

De forma alguma desejo defender este homem, que na minha humilde opinião não tem capacidade suficiente para ser prefeito de cidade alguma no mundo. O ponto que desejo levantar é de como somos rápidos no gatilho quando o assunto é julgar e difamar.  As vezes esquecemos que os verdadeiros culpados, de toda essa vergonha política que acontece em nosso país, somos nós, isso mesmo, nós votamos, nós acreditamos, nós colocamos pessoas despreparadas para nos representar e depois quando tudo da errado não queremos assumir que temos parte em tudo isso. Infelizmente em nosso país a falta de caráter parece ser algo cultural. 

Quem entre nós nunca comprou DVD falsificado, com a desculpa de que o valor é muito mais baixo, esquecendo que isto é ilegal. Quem nuca fez acordo trabalhista para receber seguro desemprego mesmo trabalhando, acumulando dessa forma dois salários, um pago pelo empregador e outro pelo povo, isso mesmo, pelo povo, estamos roubando dinheiro público. Quem nunca falsificou dados para burlar o imposto de renda, esquecendo que isto é crime, é roubo. São tantas falcatroas que fazemos todos os dias que isto já se tornou normal em nossas vidas, somos culturalmente errados, estamos sempre prontos para apontar o dedo para os erros alheios pensando que com esta atitude nos tornamos imunes de nossas próprias doenças morais, isto é hipocrisia!!! 

Somos sempre levados a pensar que apenas aqueles que cometem crimes que aparecem no "Fantástico" são os monstros de nossa nação, quando na verdade nossa nação é podre porque nós somos podres, pequenos anônimos que destroem nosso país dia após dia, se não somos honestos no pouco com certeza se estivéssemos no lugar deles faríamos o mesmo ou até pior. 

Devemos pensar duas vezes antes de decretar juízo sobre aqueles que nos cercam, pois muitas vezes enquanto estamos tentando tirar o cisco do olho de nosso vizinho esquecemos da trave que está em nossos próprios olhos, nos vendamos perante nossas misérias enquanto buscamos como loucos a vergonha de nosso semelhante.

Obviamente não deixo de acreditar que ainda existam pessoas honestas, que não se deixam moldar pela sujeira que nos cerca, mas temos que ser sinceros, eles são a minoria. Pense nisso....


Julio Cezar Nakasato

A superficialidade de Piragine (Nossa Santa Alienação Evangélica)

Esta semana um vídeo “bombou” na internet. O recebi de vários amigos, várias lists, comunidades no Orkut, twitter... por isso quero comentá-lo. É um vídeo onde o pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba, Paschoal Piragine Jr, recomenda de forma enfática que os cristãos não votem em quaisquer candidatos do PT. Faço minha crítica ao vídeo.

E a faço isto com muita tranqüilidade, por três motivos: primeiro por gostar de ouvir o Pr. Piragine, logo não se trata de criticar alguém por quem já nutro uma antipatia, o que tornaria a coisa muito mais fácil; segundo, porque apesar de por muitos anos ter militado pelo PT (mesmo sem nunca ter me filiado), hoje nem sequer voto em Dilma, ou no governador (aqui no Rio do PMDB, mas apoiado pela legenda) Sérgio Cabral. Logo, também não é um contraponto de um “petista melindrado” com as falas do pastor; e terceiro e último: sou batista, assim como o Pr. Piragine.

Em primeiro lugar gostaria de dizer que há algo de bom nisso: a igreja acordar pra sua participação política, não como massa de manobra, mas como força de conscientização. O problema é quando essa conscientização é feita em forma de “mensagem” e não em forma de “debate”. Um pastor falando do púlpito, sem que haja um espaço democrático de discussão do que foi dito, pode parecer manipulação, e não conscientização.

Mas achei superficial! Além de apelativo!

Em pouco mais de 10 minutos o pastor da PIB de Curitiba expõe o porquê não votar no PT. E aí começam os problemas: ele faz uma série de acusações que deveriam ser levadas a debate, e não colocadas como “vontade de Deus” para seu povo. As acusações são superficiais, e muitas vezes, mentirosas.

Não há no quadro do PT, por exemplo, uma defesa da pedofilia, como é explicitado no vídeo altamente apelativo colocado pelo pastor.

As lutas em questões como a homossexualidade estão presentes em quase todos os partidos, com deputados que apóiam e que votarão, sim, a favor da PL 122, mesmo contra a “orientação” de seus partidos, pois querem ficar bem com a “opinião pública”.

A questão da união civil entre homossexuais não deve ser enxergada em pé de igualdade com a idéia de “casamento gay”. Particularmente, até entendo que lutar por esse direito para aqueles que são homossexuais parece muito mais com os ideais de JUSTIÇA do Reino, por mais “ofensivo” que possa parecer à nossa fé. É uma questão muito mais complexa e exige um debate demorado e honesto, e não uma acusação leviana em um vídeo manipulador e superficial.

Mas a tônica da mensagem curta do Pr. Piragine girou em torno do que ele chamou de “iniqüidade estabelecida”, ou “iniqüidade institucionalizada”. E é aqui que, como dia minha avó, “a porca torce o rabo”.

Por que?

Porque o Pr. da PIB de Curitiba dá a entender que essa “iniqüidade institucionalizada” é patrimônio do PT, e é complicada uma afirmativa dessas.

Por que não dizer também do fisiologismo descarado do DEM, ou isso não seria uma forma de “iniqüidade estabelecida”?

Por que não falar do capitalismo selvagem e neoliberal do PSDB, que achincalha o pobre e favorece os mais ricos, pra que se tornem ainda mais ricos? Não seria isso “iniqüidade institucionalizada”?

Por que não dizer dos membros do PV que defendem abertamente a legalização da maconha, e o aborto? A “iniqüidade institucionalizada” é privilégio petista? E olha que eu voto abertamente e tranquilamente em Marina Silva.

Por que não denunciar líderes evangélicos, pastores, e outros pilantras “cristãos” que até hoje mantém seus domínios de rádios, gravadoras, etc... graças ao apoio prestado aos militares na época da ditadura? Em nome da” pregação do evangelho” vale apoiar a “iniqüidade institucionalizada”?

E a “iniqüidade institucionalizada” fora da política, como no caso do Sr. Silas Malafaia, que é um dos maiores “gritadores” contra a PL 122, mas que chama de trouxas aqueles que ofertam por amor, e promete os maiores absurdos em nome de Deus para seus fiéis depositários? Não seria o caso de apontarmos o dedo antes em nossa política “cristã” e “denominacional”, antes de partirmos pra “fora”?

Quais as fontes e companheiros do Pr. Piragine para tais acusações? Ele deixa claro, alguns pastores e setores da Igreja Católica. Um pouco de discernimento histórico nos mostra que a ICAR e principalmente o meio histórico tradicional e pentecostal brasileiro sofrem de uma aversão história aos que denominaram partidos de “esquerda”, principalmente os de influência marxista. Lembro de pastores dizendo que “vermelho é a cor do diabo e dos comunistas.”

Portanto, a ferida é muito mais profunda do que se imagina, e não é domínio do PT. Se queremos (e creio que devemos) discutir política em nossas igrejas, devemos fazê-lo de forma responsável, e democrática. Não de cima para baixo e baseado em informações que merecem um debate mais acurado.

Continuarei ouvindo algumas mensagens do Pr. Piragine... mas espero que ele continue fazendo o que durante mais de 30 anos faz muito bem... só pregar a Palavra.

E que fique bem claro... é somente uma opinião... Deus não me revelou isso, ok?

José Barbosa Junior – 03 de setembro de 2010

Fonte:http://www.crerepensar.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=192&Itemid=26

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Minha Oração

Deus me ajude, não a ser uma pessoa de sucesso, pois creio que isto não seja importante para o Senhor, me ajude, não a ser um milionário, um grande "vencedor", uma pessoa de prestígio, pois creio que isto não seja importante para o Senhor. Deus me ensine a aprender nas derrotas, quero aprender a assumir erros, a amar, não amar da boca pra fora, e sim amar com o tenho, amar de verdade. Tentar ser de alguma forma, uma pessoa melhor, mais tolerante, mais compreensivo, mais calmo, mais verdadeiro. Quero aprender a abandonar a malícia, a mentira, o rancor, o ódio, a falta de respeito, pois isto, creio eu, seja realmente importante, não somente para mim, mas também para a Ti Criador!

Não conheço o Senhor perfeitamente, na verdade a cada dia que passa o Senhor se torna mais e mais um enigma em minha mente, tento encontrar explicações racionais para crer, porém depois de tanto tentar me encontro em um labirinto, onde o Senhor, me cerca de dúvidas e muitas vezes de paranóias, para muitos, minhas palavras podem parecer até mesmo uma blasfêmia, porém Deus, creio que assumir que tenho dúvidas não seja motivo de tanto espanto para Ti, pois ao que parece o Senhor sente prazer em se esconder, sente prazer em nos mostrar um pouco de sua essência e ao mesmo tempo nos ocultar um todo de sua verdadeira realidade.

Não tenho muitas certezas sobre Ti Feitor da Vida, não encontro palavras para contigo dialogar, tenho dificuldades até mesmo de pensar sobre “O CRIADOR”, porém acredito em Ti de todo meu coração, pois enxergo sua realidade, cada vez que vejo alguém sem requerer nada em troca ajudar um necessitado,  quando vejo a alegria da criança sem malícia alguma, quando vejo o pôr-do-sol ou as estrelas no céu, quando vejo um sorriso verdadeiro ou uma lágrima sincera, quando consigo, mesmo que instantaneamente, sentir sua existência, sua essência, obrigado CRIADOR, obrigado, pela simplicidade da vida, da alegria, do amor e da existência. Obrigado.

Julio Cezar Nakasato.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O futebol

Para alguns um mero esporte, para outros uma futilidade, mas para muitos uma paixão, algo que vai além da racionalidade, algo que pode unir e separar mundos, o futebol.

Época de Copa, vários países do mundo estão em um clima de expectativa sobre como será a atuação de sua seleção neste torneio, mas algo em particular acontece no Brasil, no Brasil o futebol não é simplesmente mais um esporte e sim “A PAIXÃO DA NAÇÃO”, é motivo de discussões acaloradas e até mesmo de brigas, agressões físicas e morte. Este jogo exerce um poder oculto sobre o Brasileiro, é algo parecido com uma religião, já está entranhado dentro da cultura do nosso povo, faz parte de tradições familiares, meche com os sonhos e com o imaginário de nossa nação. E tudo isto se torna mais forte em época de copa, pois neste momento os rivais se tornam cúmplices, os inimigos se tornam parceiros, todos juntos pelo mesmo ideal, uma nação que se une para vibrar, chorar, torcer. Os atletas dentro das quatro linhas se tornam os representantes de nossa nação, sim neste momento é como se por um instante se tornassem a própria nação.

Dentro dos noventa minutos são esquecidas as dores, as discussões familiares, as diferenças, a pobreza, a fome, ricos e pobres, homens e mulheres, não há quem não se emocione com momento sublime da vitória, da glória, do orgulho de ser brasileiro, do orgulho de estar inserido nesta pátria, a identificação do individuo com sua nação, momentos mágicos que fazem a vida do brasileiro, que muitas vezes é tão sofrida, ter pelo menos um pequeno ar de magia e de alegria.

Vamos Brasil!!!! 

quinta-feira, 18 de março de 2010

"O Bom Samaritano” ou “ O Bom Travesti" - Rubem Alves

E perguntaram a Jesus: "Quem é o meu próximo?" E ele lhes contou a seguinte parábola:

Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: "Vá passando a carteira". O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.

Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: "Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você." Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: "Ego te absolvo..." Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.

Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: "Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!" O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, "aleluia!" e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.

Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: "Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir." Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.

O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.

Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: "Quem foi o próximo do homem ferido?"

Rubem Alves

Livre Arbítrio?

Livre arbítrio seria em linhas gerais o direito de escolha, que supostamente, todo ser humano seria dotado. Tal direito lhe daria o poder de efetuar suas próprias escolhas, e dessa forma, se responsabilizar por suas atitudes e por tudo o que tais atitudes trariam como conseqüências. Entende-se dessa forma que se temos tal livre arbítrio, podemos então fazer nossas escolhas livremente.

Gostaria de levantar alguns questionamentos sobre nossa visão geral no que tange as escolhas do ser humano, creio eu que não exista ser humano dotado de total livre arbítrio, pois dentro de uma sociedade onde existem regras e tais regras normalmente são coercitivas para aqueles que as desobedecem, podemos compreender então que necessariamente dentro de uma sociedade não exista uma individualidade suprema, pois de outra forma estaríamos beirando o caos, nenhuma sociedade sobreviveria se os indivíduos nela contidos não respeitassem regras gerais, tais regras estabelecidas por um estado ou por algo que podemos chamar de "consciência coletiva", de qualquer forma tais regras existentes em todas as sociedades, impedem que possamos exercer uma liberdade integral.

Vale ressaltar também que dentro de nossa sociedade capitalista normalmente nossas escolhas não são simplesmente ditadas por nossas vontades, mas sim por fatores externos que influenciam em nossas escolhas, um bom exemplo disso é que normalmente não escolhemos nossas profissões de acordo com aquilo que nos proporciona prazer, mas de acordo com a rentabilidade que tal trabalho irá nos render. O que novamente nos leva a um questionamento se realmente existe tal liberdade de escolha.

Dentro dos parâmetros cristãos o livre arbítrio teria uma conotação ligada a escolha por um caminho voltado a espiritualidade, ou seja, o livre arbítrio seria uma nomenclatura utilizada para explicar que todo ser humano pode escolher seguir ou não o cristianismo. Colocando sobre os ombros do homem a responsabilidade de seu futuro pós-morte física. Desejo agora levantar alguns questionamentos no que tange isso que chamam de livre arbítrio dentro da tradição cristã, o livre arbítrio nos remete ao pensamento de real liberdade de escolha, contudo tal liberdade de escolha, lembrando que tal liberdade está ligada a escolha do caminho cristão, está delimitada da seguinte maneira: temos a liberdade de escolhermos se seguiremos ou não a doutrina cristã, mas caso isto não ocorra, estaremos fatalmente condenados ao inferno, ou seja, temos a liberdade de escolher, mas se desejarmos escolher não seguir os fundamentos convencionais do cristianismo estaremos fadados ao fogo eterno. Não consigo conceber que isso seja realmente liberdade, gostaria de frisar também que nem todas as linhas de pensamento cristãs crêem no livre arbítrio, que na real verdade é um “livre” arbítrio um tanto quanto fictício, pois tal liberdade é ditada dentro do medo da condenação eterna, o que acaba não se tornando uma liberdade verdadeira, e sim uma escolha feita através do medo e não através de nossa própria vontade, o que torna o livre arbítrio uma falácia.

Seguindo a linha argumentativa acima introduzida, gostaria de pincelar mais alguns fatores que tornam o livre arbítrio uma doutrina, no mínimo, questionável. O que dizer também de pessoas que nascem fadadas a pobreza, como por exemplo, crianças que nascem nas favelas controladas por traficantes, que encontram nas drogas e no crime organizado uma saída inevitável, há crianças dentro de tais realidades que não tem escolha, ou melhor, não possuem maturidade suficiente para ter escolhas corretas dentro do cenário social que estão expostas, o que acaba novamente demonstrando que existem muitas pessoas que simplesmente não possuíram chance de obter escolhas corretas. Tais exemplos nos levam a uma profunda reflexão sobre nossa forma de ver a doutrina cristã convencional.

Minha grande reflexão dentro deste texto é a dificuldade que temos de enquadrar tais casos dentro do nosso pensar convencional, o destino daqueles que não tiveram oportunidades ou que foram induzidos por falta de alicerce social ao crime e a atos que fogem a regra geral, socialmente aceita. A doutrina do livre arbítrio nos da margem a muitos questionamentos e a muitas reflexões. Difícil conceber dentro de tantas particularidades que remontam vidas totalmente diferentes que exista uma resposta absoluta, que consiga dar um ponto final a dúvidas como estas levantadas no decorrer deste texto, a facilidade que temos de lançar pessoas no fogo eterno é no mínimo perturbadora. Tais elucubrações não trazem axiomas, mas nos levam a profundas reflexões sobre nossa forma convencional de enxergar a liberdade de escolha.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Salvação

Salvação é uma palavra que com certeza traz uma abrangência enorme dentro de seu significado. Pois imagino que não haja ser humano que dentro de sua existência nunca precisou de tal termo para uma resolução de um problema, quem dentro de sã consciência dirá que em nenhum momento de sua vida tenha necessitado de salvação.

Salvação nos remete a uma necessidade, aquele que assume precisar de salvação está na verdade assumindo limitações, o que implica que tal palavra também nos leva ao encontro de nossas impossibilidades. Salvação nos indica algo externo, uma força que venha de fora para uma resolução interna, uma provável solução para que nossas aparentes limitações temporárias se tornem em algo alcançável. Salvação nos faz relembrar de nossos heróis, do imaginário infantil, onde resoluções se encontram em simples invocações de poderes supremos, imaginário este que não remonta a realidade, pois na realidade nossas limitações não são facilmente vencidas através de palavras mágicas ou de encantamentos quebrados, o beijo do príncipe não vence o sono eterno dentro do mundo que não é pintado nas cores da ilusão.

Salvação palavra que nos traz um prazer imenso, principalmente quando ligada a alguma situação de nossas vidas na qual ela se fez muito necessária. Tal palavra é com certeza a procura incansável da humanidade. Quando olho para a humanidade, como um todo, e vejo nossas maldades, nossas ganâncias, nossa intolerância, nosso preconceito, nossa falta de amor, consigo visualizar claramente nossa necessidade de salvação, a necessidade de sermos salvos de nós mesmos, essa era a salvação pregada por Cristo, à salvação do homem de suas próprias misérias, de suas próprias discrepâncias e de sua própria limitação, salvação de uma visão egoísta, salvação da nossa alma, pois que há de mais importante no homem do que sua alma, aquilo que é sua essência verdadeira, o que está por trás do que vestimos e de nossa aparência passageira. Deus quando caminhou no meio de sua criação não intentou fundar mais uma religião, Ele trazia salvação, trazia o desligamento do passageiro e a ligação com o eterno, libertação de nossas mentes, e quando conseguimos compreender isto do fundo de nossas almas conseguimos assumir a necessidade eminente de algo externo, que possa nos trazer auxilio para nossas limitações, é neste momento que nossa racionalidade já não consegue conceber caminhos que possam transpassar nossas barreiras, é nessa hora, exatamente neste instante, onde nos encontramos com aquilo que chamamos de espiritual, fé, esperança que nos faz transpassar as cadeias que nos prendem a esta pueril dimensão, visão que alcança o invisível e que nos mostra além do mundo material, que nossos olhos humanos não conseguem deslumbrar, fé, força imaterial que nos auxilia a sair do finito, poder irracional que consegue fazer o eterno se tornar palpável, que faz a impossibilidade se tornar possibilidade.

Vã é a tentativa humana de se desprender de sua própria natureza sem o auxilio de algo maior, vã, pois dentro de suas limitações não pode se livrar de si mesmo sem uma força superior, salvação nos faz entender nossa real situação, nos faz lembrar nossa humanidade e de nossas misérias, salvação é a compreensão do encontro com o espiritual, a compreensão da necessidade daquilo que vai além de nosso entendimento natural, compreensão do mundo que nossa razão não pode conceber, que somente através da fé, este poder que está acima da racionalidade, que é a única via ao eterno, podemos encontrar refúgio de nossas misérias e através dela a verdadeira SALVAÇÃO.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Jesus o anti-herói


O sermão da montanha, talvez a exposição mais conhecida de Jesus Cristo, nos traz um paradoxo muito interessante a respeito de nossa existência, algo que talvez venha contradizer de forma brutal a sociedade e a cultura que tem ditado nossas preferências.

Em suma o homem bem aventurado citado por Cristo é uma figura totalmente fora dos padrões estipulados por nossa sociedade e nossa cultura, tal homem de forma alguma, dentro de nossos padrões, poderia ser um modelo de “homem feliz”.

O nosso bem aventurado, e quando digo nosso estou me referindo ao modelo criado em nossa sociedade, não chora, pois chorar demonstra fraqueza. Nosso bem aventurado não é pobre de espírito e nem mesmo está preocupado com seu espírito, pois todas as suas metas e seus objetivos estão ligados ao mundo natural, ele está acima do espiritual, pobre, mesmo que seja de espírito não está dentro dos seus ideais, nosso herói está acima da moral.

Nosso bem aventurado não é manso, muito pelo contrário, passa por cima de tudo e de todos que estão em seu caminho, não é pacificador, pois para ele a paz é para os fracos, aqueles que não suportam a guerra, para ele, a guerra é a eliminação daqueles que atrasam o progresso, o mundo seleciona os melhores, é a evolução, a seleção natural moderna.

Nosso bem aventurado ao contrário do citado por Jesus não está esperando uma recompensa vindoura, tudo que ele faz visa o ganho imediato, sua vida é movida por aquilo que se pode ver e sentir, este é seu mundo, um mundo onde tudo é ditado pelo lucro, não se observa o que somos e sim o que temos, ou seja, somos o que temos, e se somos o que temos a ordem é consumir.

Nosso bem aventurado possui sua própria justiça, a justiça do ganho, tudo vale desde que seja para a finalidade do lucro, o nosso herói não pode dar lugar a fraqueza e a irracionalidade da fé, ele não depende de Deus, pois, ele mesmo tornou-se seu próprio deus.

O bem aventurado de Cristo é o anti-herói de nosso tempo, seu altruísmo cheira mal perante o reino do capital, nosso mundo não aceita o homem do evangelho, pois este e sua fé não trazem progresso e benefício a nossa sociedade. Há aqui um paradoxo entre nosso ideal e a representação da felicidade feita por Cristo em sua exposição. Compreendemos então que o bem aventurado de Jesus, não é o nosso “homem de sucesso”, mas sim o fracassado de nossos dias. O fracasso então se torna a vitória, e a vitória se torna o fracasso, a vida se torna a morte e a morte se torna vida. Difícil entender tal paradoxo. Ao contrário do que dizem muitos cristãos o ensinamento de seu precursor está cheio de valores que não são compreendidos de forma simplória.

Ao que parece Cristo não estava preocupado com as privações que a vida daqueles que o seguiriam iria lhes proporcionar, seus ensinamentos tinham uma visão muito maior do mundo, sua visão parecia ir além da barreira do tempo, pois o tempo é delimitado pelo natural, para Jesus o tempo não parecia ser algo linear, ao que parece o “Homem-Deus” já vivia a eternidade mesmo estando entre nós, pois somente entendendo o tempo como eterno conseguimos compreender o desprendimento daquilo que nos proporciona tanto prazer, Cristo já vivia o eterno, para ele não existe o passageiro, pois o tempo da forma como o compreendemos já não existia. As puerilidades que nos prendem a esta vida não fazem parte do eterno e do infinito. Cristo já compreendia o que é não pertencer ao tempo, e seu ideal era totalmente distinto ao natural, sua compreensão da existência estava totalmente fora dos moldes do finito.

Não há como compreender o sermão da montanha tendo em vista a vida natural, não há como compreender Cristo se não nos desprendermos de padrões criados em nossa sociedade, não há como compreender tais ensinamentos se não nos desprovermos de nossa racionalidade terrena, para então, penetrar no imaterial, no infinito e desconhecido que somente a fé pode proporcionar, onde o herói se torna o anti-herói e o anti-herói se torna o verdadeiro Herói.