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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Efêmero

O que significa viver um sentimento efêmero? A priori, nossos dicionários geralmente definem esta palavra como passageiro; algo que não possui longa duração. Não encontro dificuldade para concordar com esta afirmação, mas gostaria saber o que faço com aqueles momentos que foram passageiros na perspectiva do tempo, mas que eu nunca conseguirei apagar de minhas lembranças.

Daí nasce uma dúvida antagônica, ou seja, como posso dizer que foi passageiro aquilo que carrego tão vivo dentro de minha alma? É fato que o presente não se pode deter de forma alguma, e que fazendo uso da lógica, seria impossível que o presente se perpetuasse. Mas o problema é que me parece impossível viver uma vida tão lógica, e mesmo que fosse possível, creio que não me sentiria nem um pouco atraído por ela.

Quem pode viver uma vida tão previsível assim? Ninguém, ou pelo menos, ninguém que quisesse viver a vida em sua plenitude. Não é possível ser feliz vivendo do lógico, não pretendo jamais deixar de viver o efêmero da vida, já que esses momentos são únicos e não voltarão jamais. Aquele que se priva de viver o agora, certamente se arrependerá amanhã, chorará por não ter arriscado viver um grande amor, ou pelo menos, lamentará não ter tentado.

Se vivermos o presente com medo do que nos decorrerá deste momento, não conseguiremos sequer absorver o prazer que o presente nos oferece. Creio que em muitos casos nossas lembranças são mais prazerosas do que o momento realmente foi, talvez porque quando devíamos ter aproveitado a sensação nos perdemos em sentimentos que nos atrapalharam. Um beijo romântico na pessoa amada é perfeito nas lembranças sem que o tenha sido de fato, já que no momento o coração batia forte e a mão suava, impedindo assim que a sensação maravilhosa do beijo fosse de fato sentida.

Muitas vezes as sensações são, de fato, passageiras e é preciso que as aproveitemos, para que assim a memória esteja livre no futuro para fazer apenas sua função, recordar. Sim… algumas vezes ela exerce funções que não lhe são devidas, por exemplo, as vezes ela é incumbida de criar um momento que não existiu na realidade, criando assim, não uma lembrança, mas uma fantasia. Recuso-me viver apenas de fantasias, quero degustar cada instante como se fosse o último, cada oportunidade como sendo única.

Talvez por isso eu me sinta a cada dia mais débil, tenho prestado enorme atenção quando estou diante de algo que julgo ser bom. Tomando chá com uma mulher que me faz sentir o homem mais feliz do mundo, procuro notar como ela sorve o liquido e como seus lábios ficam lindos quando estão molhados, tento reparar como ela sente prazer quando estou acariciando seu cabelo, sinto seu cheiro quando a beijo e percebo como o tempo pára diante dela.

É bem provável que este exercício seja em vão, mas certamente tem me feito aproveitar melhor as sensações que tenho vivido. Alguém deve ter pensado nisso quando criou a foto, pois é exatamente isso que ela nos faz, torna eterno àqueles momentos mais felizes, e ao rever esta imagem podemos desfrutar, ainda que por instantes o que já se foi. Assim, o efêmero não deve ser visto como algo que passou, mas como algo que de certa forma temos vivido no presente e que tentaremos tornar eterno, ainda que a lógica do relógio nos tente impedir.

Leandro Possadagua

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Não lave suas Mãos

Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.” 

Mateus 27:24 

Constantemente utilizamos a frase: “Eu lavo minhas mãos”, essa expressão tem sua origem no relato bíblico do julgamento de Jesus, refere-se ao governador Pôncio Pilatos ter lavado suas mãos perante o povo judeu e com este ato ter dado, mesmo que indiretamente, permissividade para o assassinato de Jesus Cristo, com esta atitude o governador da província estava querendo dizer que ele não possuía responsabilidade alguma sobre a morte daquele homem.

Pôncio Pilatos era o governador romano da província da Judéia, se havia alguém que poderia impedir a crucificação de Jesus esse alguém com certeza era Pilatos, historicamente os romanos dominaram o povo hebreu, o que explica o fato de um romano estar julgando uma causa puramente judia. Os judeus querendo ou não prestavam satisfações ao governo romano sobre suas causas. Pilatos tinha todo poder em suas mãos para impedir a condenação daquele que, ele mesmo via ser justo, porém Pôncio preferiu se eximir das responsabilidades que seu cargo lhe incumbia, preferiu lavar suas mãos, com medo de uma revolta por conta do alvoroço causado pelos judeus, Pilatos preferiu o caminho mais fácil, retirou dos seus ombros a responsabilidade, preferiu a omissão, covarde deixou um inocente ser condenado a cumprir com seu dever de governante.

Teologicamente muitos crêem que o fato de Pilatos lavar suas mãos, ao final, acabou por ser um fato irrelevante, pois a morte de Jesus era algo que já estava predestinado, e não seria o governador Pôncio Pilatos que faria com que isto não ocorresse. Eu particularmente tenho minhas críticas a este posicionamento, acredito que Jesus tinha o propósito de morrer pela humanidade, creio que isto aconteceria de qualquer maneira, porém não creio que tudo já estaria pré-ordenado para que ocorresse daquela forma, creio no propósito, porém não creio que Deus tenha pré-estipulado tudo nos mínimos detalhes, pois desta maneira seríamos apenas meros marionetes nas mãos do Criador, acredito que mesmo se Pilatos não condenasse Jesus, Ele acabaria morrendo, talvez através da revolta, e ele não seria uma referência de omissão e de alguém que não cumpriu com aquilo que deveria.

O fato é que Pilatos acabou por ser estigmatizado como o homem que teve a oportunidade de fazer algo correto e preferiu se omitir, eximindo-se de suas responsabilidades. Nós muitas vezes também agimos dessa maneira, certa vez ouvi uma conhecida que, diga-se de passagem, era uma mulher muito rica, dizendo que havia visto um mendigo comendo restos de alimentos que estavam no lixo e que aquela cena havia a comovido muito, disse também que a partir do momento em que ela tivesse condições gostaria de ajudar pessoas necessitadas. A grande verdade é que ela já tinha condições de ajudar, grande parte daqueles que lerão este texto tem condições de ajudar, mesmo em pequena escala. Não estou me referindo erradicar a fome no mundo, questões “macros” que não estão ao nosso alcance, e sim ao nosso dia-a-dia, estou falando sobre ajudar alguém a empurrar o carro, sobre dar um alimento a algum necessitado, sobre abrir o guarda-roupa e ver o quanto de nossas roupas estão simplesmente paradas por anos, e levá-las a um posto de arrecadação, para que outras pessoas possam usufruir daquilo que não nos faz falta alguma. Estou falando sobre aquilo que está ao nosso alcance, mas nós simplesmente preferimos “lavar as nossas mãos”, preferimos jogar o encargo nas costas de qualquer outro, nos omitimos perante aquilo que está dentro de nossa alçada, somos como Pilatos, preferimos fugir, incumbir outros daquilo que nós poderíamos fazer.

Infelizmente nossa sociedade capitalista nos impede de pensar no “outro”, ela nos transforma em pessoas extremamente individualistas, não conseguimos mais nos compadecer dos problemas alheios, somos movidos apenas por motivações particulares e, na maioria das vezes, mesquinhas. Lavamos nossas mãos perante várias situações que se colocam a nossa frente todos os dias.

Precisamos refletir sobre as concepções que o mundo capitalista nos impõe, principalmente no que se refere a nossas leituras sobre a vida, sobre a fraternidade e sobre o amor ao próximo, precisamos nos desprender da idéia de que a obrigação por um mundo melhor não é nossa, e começar a compreender que se todos fizerem a sua parte, através de pequenas atitudes com certeza conseguiremos fazer de nosso planeta um lugar melhor.


Julio Cezar Nakasato.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Privilégio de Questionar

Atualmente estou cursando o 6º semestre do curso de História na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), por se tratar de uma licenciatura temas pedagógicos sempre estão em pauta em nossas aulas, algo que me chama atenção é o estímulo de nossos professores no que se refere a levar o aluno a um pensamento crítico, frases como: “devemos formar cidadãos com pensamento crítico”, são clássicas quando os assuntos são temas pedagógicos. Gostaria de explanar o que em minha opinião é um pensamento crítico, e por que muitos cristãos vêem este tipo de pensamento como algo prejudicial a fé.

Primeiramente quando se fala em mente crítica não estamos falando de meras reclamações, não estou falando de criticar a roupa que determinada pessoa está usando ou críticas banais que estão presentes em nosso cotidiano, na verdade quando se fala em pensamento crítico, academicamente, estamos falando sobre questionar, duvidar, sobre como chegar a conclusões próprias. Incitar o pensamento crítico é extremamente necessário para que os jovens se tornem cidadãos ativos em sua sociedade, fazendo boas escolhas, conseguindo utilizar da lógica para traçar seus objetivos e assumir bons caminhos para suas vidas. Este tipo de pensamento deveria também ser alvo de busca de todo ser humano. Infelizmente o questionar dentro do meio cristão tem uma conotação totalmente negativa, principalmente quando o alvo de nossos questionamentos são nossos líderes ou as doutrinas ortodoxas intocáveis.

O pensamento crítico dentro do cristianismo é visto com maus olhos, pois para muitos questionar e duvidar são palavras que beiram a blasfêmia, principalmente para a ala fundamentalista que crêem serem os “donos da verdade” ou os detentores da “sã doutrina”, para estes qualquer questionamento que possa colocar em xeque os fundamentos de sua fé é considerado demoníaco ou blasfemo.

Eu particularmente creio que a dúvida, o questionamento e a crítica são excenciais para a formação da cidadania, foi dessa forma que a humanidade conseguiu avanços surpreendentes em várias áreas do conhecimento, a problemática e as formas como se chegam às resoluções dessas questões são pilares da produção do pensamento cientifico, infelizmente nós cristãos ainda preferimos simplesmente aceitar tudo o que é pré-estabelecido, por mais bizarro que tais teorias pareçam, do que buscar novas visões, novos caminhos, novos conhecimentos e até mesmo novas dúvidas. Estamos acostumados a “comer” sem perguntar a procedência, comemos tudo o que nos colocam a mesa, e acabamos nos tornando encefálicos sem nenhum tipo de opinião própria, levados facilmente por qualquer tipo de pensamento.

Por isto muitas vezes nós cristãos acabamos sem nenhum tipo de opinião sobre política, sociedade, atualidade, ficamos parados no tempo. Não conseguimos ter nenhuma opinião a não serem aquelas que nos foram ensinadas. Criticar, questionar e duvidar não são pecados mortais, na verdade são as melhores maneiras de conseguirmos respostas plausíveis para nossas inquietações. Precisamos romper com determinados paradigmas que nos constrangem ou nos amedrontam quando o assunto é questionar. E ainda vou além, se você é cristão e não possui inquietações com relação a sua fé sinto em lhe dizer, mas é melhor rever seus conceitos de cristianismo, pois se há algo de interessante na fé cristã é o fato de não sabermos todas as respostas.

Questione, duvide e critique (quando necessário), compare, leia, busque, quebre paradigmas seja um cristão que vai além, não se limite ao convencional, seja autêntico, exponha seus pensamentos, crie, este exercício com certeza será válido. Dê a você mesmo o benefício da dúvida, da incerteza. Não estou pregando o relativismo total, o que desejo dizer é que o questionamento é sadio e que devemos utilizar nosso intelecto para que possamos ser além de cristãos autênticos, cidadãos ativos em nossa sociedade, pessoas que buscam e conseguem produzir novos conhecimentos que vão além da alienação encefálica de alguns movimentos religiosos.



Julio Cezar Nakasato.

A Simplicidade da Divindade

Um Poema de um indígena Cherokee:

“Um homem sussurou:
Deus, fale comigo!
E um rouxinol começou a trinar. Mas o homem não prestou atenção. Voltou a perguntar:

Deus, fale comigo!
E um trovão reboou pelo espaço. Mas o homem não deu importância. Perguntou novamente:
Deus , deixe-me vê-lo!
E uma enorme lua brilhou no céu profundo. Mas o homem nem reparou. E, nervoso, começou a gritar:
Deus, mostre-me um milagre!
E eis que uma criança nasceu. Mas o homem não se debruçou sobre ela para admirar o milagre da vida.
Desesperado, voltou a gritar: Deus, se você existe, me toque e me deixe sentir sua presença, aqui e agora.
E uma borboleta pousou, suavemente, em seu ombro. Mas ele, irritado, a afastou com a mão.
Desiludido e entre lágrimas, continuou seu caminho. Vagueando sem rumo. Sem nada mais perguntar. Só e cheio de medo"

(Cf. JB Ecológico, junho 2002, pg.46).



Precisamos aprender a encontrar o Divino nas coisas mais simples de nossas vidas.



Julio Cezar Nakasato

Não ao Extremismo

Tenho visto alguns debates ultimamente em que vários ateus tentam demonstrar que a religião tem atrasado o progresso da humanidade, um bom exemplo disto é a pesquisa feita pelo Sociólogo norte-americano Phil Zuckerman que tenta demonstrar que quanto menos religioso é o país maior sua renda per – capita, ou seja, o ateísmo e o “nível de vida” seriam diretamente proporcionais, com exceção dos Estados Unidos onde 65% de sua população afirma que possui algum tipo de credo religioso e tem uma das rendas mais altas do mundo.

Realmente não creio que o fato de um país acreditar em algum tipo de religiosidade seja a explicação para sua falta de desenvolvimento, acredito sim que pelo fato do país ter problemas sociais sua população esteja mais aberta a algum tipo de espiritualidade, pois a religiosidade serviria como um auxílio para que essas pessoas conseguissem enfrentar seus momentos difíceis, o que seria o inverso da afirmativa ateísta.

O que muitos ateus também se esquecem quando dizem que a religião atrasa o progresso da humanidade é a contribuição moral que a crença proporciona para o bem estar da sociedade, não estou dizendo aqui que todo ateu tem problemas morais, até porque grande parte dos ateus crêem que a moral é relativa, o que na realidade estou querendo afirmar é que muitas pessoas só possuem preceitos morais pelo fato de acreditarem que devem agir de determinada maneira, pois do contrário estariam desagradando a divindade a qual elas acreditam. A crença auxilia o bem estar social o não matarás, não furtarás, não cobiçarás a mulher do próximo, o incentivo a benevolência, a misericórdia e ao perdão são fatores que ajudam a sociedade caminhar de forma organizada e também auxiliam o estado para o controle da criminalidade.

A crença resgata pessoas que outrora estavam na criminalidade, no alcoolismo ou na dependência química, essas pessoas acabam encontrando um sentido para ter uma mudança de vida dentro da religião, caso esta não existisse, quantas pessoas não teriam conseguido se livrar desses males que destroem vidas e que trazem tantos transtornos sociais.

Não podemos nos esquecer da filantropia que é estimulada pelas religiões, quantas pessoas neste mundo foram ajudadas direta ou indiretamente por alguma entidade religiosa ou por algum religioso que acreditava estar seguindo sua crença fazendo o bem ao seu semelhante?

Obviamente não podemos esquecer de atentados terroristas como o 11 de setembro, ou fatos históricos como a Guerra Santa que justificava a matança e a guerra em nome de “deus”, são fatos, porém o estado ateísta sobre o governo de Stalin também não pode ser tido como ideal humanitário.

O que quero dizer é que a religião em si não é o mal, e ainda quero ir mais além, acredito que a religião traz muito mais benefícios a humanidade do que malefícios, não creio na teoria do atraso do progresso, e realmente não consigo imaginar o mundo sem alicerces religiosos, acredito que desta maneira nosso planeta estaria beirando o caos.

Não sou “ateofóbico”, mas creio que alguns fundamentalistas ateístas que tentam “desconverter” as pessoas acabam se tornando ainda piores que os fundamentalistas religiosos, criam guerras filosóficas sem sentido e acabam se tornando extremistas militando por sua causa.

Eu particularmente tenho a seguinte opinião, não é a religião ou a falta dela que afeta o progresso da humanidade até porque este não é o foco principal da crença, o que precisamos combater não é a religião em si, e sim os extremismos que causam a intolerância e a desordem social, isso sim deve ser combatido, e estes extremismos não são particularidades do meio religioso, existem por exemplo extremistas políticos, "marxistas xiitas", capitalistas selvagens, feministas exacerbadas, entre tantos outros extremismos que podemos citar, mas isto já é assunto para outro post.

Julio Cezar Nakasato