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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Não lave suas Mãos

Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.” 

Mateus 27:24 

Constantemente utilizamos a frase: “Eu lavo minhas mãos”, essa expressão tem sua origem no relato bíblico do julgamento de Jesus, refere-se ao governador Pôncio Pilatos ter lavado suas mãos perante o povo judeu e com este ato ter dado, mesmo que indiretamente, permissividade para o assassinato de Jesus Cristo, com esta atitude o governador da província estava querendo dizer que ele não possuía responsabilidade alguma sobre a morte daquele homem.

Pôncio Pilatos era o governador romano da província da Judéia, se havia alguém que poderia impedir a crucificação de Jesus esse alguém com certeza era Pilatos, historicamente os romanos dominaram o povo hebreu, o que explica o fato de um romano estar julgando uma causa puramente judia. Os judeus querendo ou não prestavam satisfações ao governo romano sobre suas causas. Pilatos tinha todo poder em suas mãos para impedir a condenação daquele que, ele mesmo via ser justo, porém Pôncio preferiu se eximir das responsabilidades que seu cargo lhe incumbia, preferiu lavar suas mãos, com medo de uma revolta por conta do alvoroço causado pelos judeus, Pilatos preferiu o caminho mais fácil, retirou dos seus ombros a responsabilidade, preferiu a omissão, covarde deixou um inocente ser condenado a cumprir com seu dever de governante.

Teologicamente muitos crêem que o fato de Pilatos lavar suas mãos, ao final, acabou por ser um fato irrelevante, pois a morte de Jesus era algo que já estava predestinado, e não seria o governador Pôncio Pilatos que faria com que isto não ocorresse. Eu particularmente tenho minhas críticas a este posicionamento, acredito que Jesus tinha o propósito de morrer pela humanidade, creio que isto aconteceria de qualquer maneira, porém não creio que tudo já estaria pré-ordenado para que ocorresse daquela forma, creio no propósito, porém não creio que Deus tenha pré-estipulado tudo nos mínimos detalhes, pois desta maneira seríamos apenas meros marionetes nas mãos do Criador, acredito que mesmo se Pilatos não condenasse Jesus, Ele acabaria morrendo, talvez através da revolta, e ele não seria uma referência de omissão e de alguém que não cumpriu com aquilo que deveria.

O fato é que Pilatos acabou por ser estigmatizado como o homem que teve a oportunidade de fazer algo correto e preferiu se omitir, eximindo-se de suas responsabilidades. Nós muitas vezes também agimos dessa maneira, certa vez ouvi uma conhecida que, diga-se de passagem, era uma mulher muito rica, dizendo que havia visto um mendigo comendo restos de alimentos que estavam no lixo e que aquela cena havia a comovido muito, disse também que a partir do momento em que ela tivesse condições gostaria de ajudar pessoas necessitadas. A grande verdade é que ela já tinha condições de ajudar, grande parte daqueles que lerão este texto tem condições de ajudar, mesmo em pequena escala. Não estou me referindo erradicar a fome no mundo, questões “macros” que não estão ao nosso alcance, e sim ao nosso dia-a-dia, estou falando sobre ajudar alguém a empurrar o carro, sobre dar um alimento a algum necessitado, sobre abrir o guarda-roupa e ver o quanto de nossas roupas estão simplesmente paradas por anos, e levá-las a um posto de arrecadação, para que outras pessoas possam usufruir daquilo que não nos faz falta alguma. Estou falando sobre aquilo que está ao nosso alcance, mas nós simplesmente preferimos “lavar as nossas mãos”, preferimos jogar o encargo nas costas de qualquer outro, nos omitimos perante aquilo que está dentro de nossa alçada, somos como Pilatos, preferimos fugir, incumbir outros daquilo que nós poderíamos fazer.

Infelizmente nossa sociedade capitalista nos impede de pensar no “outro”, ela nos transforma em pessoas extremamente individualistas, não conseguimos mais nos compadecer dos problemas alheios, somos movidos apenas por motivações particulares e, na maioria das vezes, mesquinhas. Lavamos nossas mãos perante várias situações que se colocam a nossa frente todos os dias.

Precisamos refletir sobre as concepções que o mundo capitalista nos impõe, principalmente no que se refere a nossas leituras sobre a vida, sobre a fraternidade e sobre o amor ao próximo, precisamos nos desprender da idéia de que a obrigação por um mundo melhor não é nossa, e começar a compreender que se todos fizerem a sua parte, através de pequenas atitudes com certeza conseguiremos fazer de nosso planeta um lugar melhor.


Julio Cezar Nakasato.

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