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quinta-feira, 18 de março de 2010

Livre Arbítrio?

Livre arbítrio seria em linhas gerais o direito de escolha, que supostamente, todo ser humano seria dotado. Tal direito lhe daria o poder de efetuar suas próprias escolhas, e dessa forma, se responsabilizar por suas atitudes e por tudo o que tais atitudes trariam como conseqüências. Entende-se dessa forma que se temos tal livre arbítrio, podemos então fazer nossas escolhas livremente.

Gostaria de levantar alguns questionamentos sobre nossa visão geral no que tange as escolhas do ser humano, creio eu que não exista ser humano dotado de total livre arbítrio, pois dentro de uma sociedade onde existem regras e tais regras normalmente são coercitivas para aqueles que as desobedecem, podemos compreender então que necessariamente dentro de uma sociedade não exista uma individualidade suprema, pois de outra forma estaríamos beirando o caos, nenhuma sociedade sobreviveria se os indivíduos nela contidos não respeitassem regras gerais, tais regras estabelecidas por um estado ou por algo que podemos chamar de "consciência coletiva", de qualquer forma tais regras existentes em todas as sociedades, impedem que possamos exercer uma liberdade integral.

Vale ressaltar também que dentro de nossa sociedade capitalista normalmente nossas escolhas não são simplesmente ditadas por nossas vontades, mas sim por fatores externos que influenciam em nossas escolhas, um bom exemplo disso é que normalmente não escolhemos nossas profissões de acordo com aquilo que nos proporciona prazer, mas de acordo com a rentabilidade que tal trabalho irá nos render. O que novamente nos leva a um questionamento se realmente existe tal liberdade de escolha.

Dentro dos parâmetros cristãos o livre arbítrio teria uma conotação ligada a escolha por um caminho voltado a espiritualidade, ou seja, o livre arbítrio seria uma nomenclatura utilizada para explicar que todo ser humano pode escolher seguir ou não o cristianismo. Colocando sobre os ombros do homem a responsabilidade de seu futuro pós-morte física. Desejo agora levantar alguns questionamentos no que tange isso que chamam de livre arbítrio dentro da tradição cristã, o livre arbítrio nos remete ao pensamento de real liberdade de escolha, contudo tal liberdade de escolha, lembrando que tal liberdade está ligada a escolha do caminho cristão, está delimitada da seguinte maneira: temos a liberdade de escolhermos se seguiremos ou não a doutrina cristã, mas caso isto não ocorra, estaremos fatalmente condenados ao inferno, ou seja, temos a liberdade de escolher, mas se desejarmos escolher não seguir os fundamentos convencionais do cristianismo estaremos fadados ao fogo eterno. Não consigo conceber que isso seja realmente liberdade, gostaria de frisar também que nem todas as linhas de pensamento cristãs crêem no livre arbítrio, que na real verdade é um “livre” arbítrio um tanto quanto fictício, pois tal liberdade é ditada dentro do medo da condenação eterna, o que acaba não se tornando uma liberdade verdadeira, e sim uma escolha feita através do medo e não através de nossa própria vontade, o que torna o livre arbítrio uma falácia.

Seguindo a linha argumentativa acima introduzida, gostaria de pincelar mais alguns fatores que tornam o livre arbítrio uma doutrina, no mínimo, questionável. O que dizer também de pessoas que nascem fadadas a pobreza, como por exemplo, crianças que nascem nas favelas controladas por traficantes, que encontram nas drogas e no crime organizado uma saída inevitável, há crianças dentro de tais realidades que não tem escolha, ou melhor, não possuem maturidade suficiente para ter escolhas corretas dentro do cenário social que estão expostas, o que acaba novamente demonstrando que existem muitas pessoas que simplesmente não possuíram chance de obter escolhas corretas. Tais exemplos nos levam a uma profunda reflexão sobre nossa forma de ver a doutrina cristã convencional.

Minha grande reflexão dentro deste texto é a dificuldade que temos de enquadrar tais casos dentro do nosso pensar convencional, o destino daqueles que não tiveram oportunidades ou que foram induzidos por falta de alicerce social ao crime e a atos que fogem a regra geral, socialmente aceita. A doutrina do livre arbítrio nos da margem a muitos questionamentos e a muitas reflexões. Difícil conceber dentro de tantas particularidades que remontam vidas totalmente diferentes que exista uma resposta absoluta, que consiga dar um ponto final a dúvidas como estas levantadas no decorrer deste texto, a facilidade que temos de lançar pessoas no fogo eterno é no mínimo perturbadora. Tais elucubrações não trazem axiomas, mas nos levam a profundas reflexões sobre nossa forma convencional de enxergar a liberdade de escolha.

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