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quinta-feira, 11 de março de 2010

Jesus o anti-herói


O sermão da montanha, talvez a exposição mais conhecida de Jesus Cristo, nos traz um paradoxo muito interessante a respeito de nossa existência, algo que talvez venha contradizer de forma brutal a sociedade e a cultura que tem ditado nossas preferências.

Em suma o homem bem aventurado citado por Cristo é uma figura totalmente fora dos padrões estipulados por nossa sociedade e nossa cultura, tal homem de forma alguma, dentro de nossos padrões, poderia ser um modelo de “homem feliz”.

O nosso bem aventurado, e quando digo nosso estou me referindo ao modelo criado em nossa sociedade, não chora, pois chorar demonstra fraqueza. Nosso bem aventurado não é pobre de espírito e nem mesmo está preocupado com seu espírito, pois todas as suas metas e seus objetivos estão ligados ao mundo natural, ele está acima do espiritual, pobre, mesmo que seja de espírito não está dentro dos seus ideais, nosso herói está acima da moral.

Nosso bem aventurado não é manso, muito pelo contrário, passa por cima de tudo e de todos que estão em seu caminho, não é pacificador, pois para ele a paz é para os fracos, aqueles que não suportam a guerra, para ele, a guerra é a eliminação daqueles que atrasam o progresso, o mundo seleciona os melhores, é a evolução, a seleção natural moderna.

Nosso bem aventurado ao contrário do citado por Jesus não está esperando uma recompensa vindoura, tudo que ele faz visa o ganho imediato, sua vida é movida por aquilo que se pode ver e sentir, este é seu mundo, um mundo onde tudo é ditado pelo lucro, não se observa o que somos e sim o que temos, ou seja, somos o que temos, e se somos o que temos a ordem é consumir.

Nosso bem aventurado possui sua própria justiça, a justiça do ganho, tudo vale desde que seja para a finalidade do lucro, o nosso herói não pode dar lugar a fraqueza e a irracionalidade da fé, ele não depende de Deus, pois, ele mesmo tornou-se seu próprio deus.

O bem aventurado de Cristo é o anti-herói de nosso tempo, seu altruísmo cheira mal perante o reino do capital, nosso mundo não aceita o homem do evangelho, pois este e sua fé não trazem progresso e benefício a nossa sociedade. Há aqui um paradoxo entre nosso ideal e a representação da felicidade feita por Cristo em sua exposição. Compreendemos então que o bem aventurado de Jesus, não é o nosso “homem de sucesso”, mas sim o fracassado de nossos dias. O fracasso então se torna a vitória, e a vitória se torna o fracasso, a vida se torna a morte e a morte se torna vida. Difícil entender tal paradoxo. Ao contrário do que dizem muitos cristãos o ensinamento de seu precursor está cheio de valores que não são compreendidos de forma simplória.

Ao que parece Cristo não estava preocupado com as privações que a vida daqueles que o seguiriam iria lhes proporcionar, seus ensinamentos tinham uma visão muito maior do mundo, sua visão parecia ir além da barreira do tempo, pois o tempo é delimitado pelo natural, para Jesus o tempo não parecia ser algo linear, ao que parece o “Homem-Deus” já vivia a eternidade mesmo estando entre nós, pois somente entendendo o tempo como eterno conseguimos compreender o desprendimento daquilo que nos proporciona tanto prazer, Cristo já vivia o eterno, para ele não existe o passageiro, pois o tempo da forma como o compreendemos já não existia. As puerilidades que nos prendem a esta vida não fazem parte do eterno e do infinito. Cristo já compreendia o que é não pertencer ao tempo, e seu ideal era totalmente distinto ao natural, sua compreensão da existência estava totalmente fora dos moldes do finito.

Não há como compreender o sermão da montanha tendo em vista a vida natural, não há como compreender Cristo se não nos desprendermos de padrões criados em nossa sociedade, não há como compreender tais ensinamentos se não nos desprovermos de nossa racionalidade terrena, para então, penetrar no imaterial, no infinito e desconhecido que somente a fé pode proporcionar, onde o herói se torna o anti-herói e o anti-herói se torna o verdadeiro Herói.




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